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A ideia
de um novo bairro
Até
o final do século XIX, o bairro da Urca não existia, simplesmente porque
as águas da Guanabara batiam diretamente nas rochas que circundam a Urca
e o Pão de Açúcar. De um lado, a praia da Saudade e a praia Vermelha, de
outro, a praia de Fora e o Cara de Cão com a Fortaleza de São João. Para
esta o acesso era feito diretamente por mar.
Entre 1870 e 80, o comerciante português Domingos Fernandes Pinto
planejou transformar o local num novo bairro, ou melhor, numa nova cidade,
com os prédios obedecendo "a um novo estilo, elegante e artístico".
Em 2 de março de 1895, ele assinou contrato com a Intendência
Municipal para a construção de um cais, ligando a praia da
Saudade, em frente ao Instituto Benjamim Constant, à Escola de Aprendizes
de Artilheiros, na Fortaleza de São João.
Mas o sonho de Domingos Fernandes Pinto não se realizou. Anos
depois, o Exército embargou a obra, para não prejudicar a
defesa do Forte. Como se viu mais tarde, o bairro em aterro criou um acesso
mais direto àquela área militar. No entanto, com a construção
inicial do cais para acesso à pedreira, o próprio Forte passou
a utilizar um caminho precário pela montanha, até a antiga
praia da Urca e a pedreira, que veio a dar origem à atual Avenida
São Sebastião.
Um novo contrato com a Prefeitura foi assinado em 1919, mas Domingos
Fernandes Pinto não pôde cumpri-lo.
A Sociedada Anônima Empresa da Urca
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Rodrigo de Freitas, abrindo as avenidas de contorno para ocupação
dos novos terrenos; e, finalmente, abriu a Avenida do Contorno do Morro
da Viúva, atual Rui Barbosa, completando a ligação
da Beira-Mar pelo litoral, iniciada anos antes. As novas faixas de terrenos
integradas à cidade, nas quais se inclui, muito apropriadamente,
também a Urca, caracterizam o interesse em dar novo valor ao solo
urbano do Rio de Janeiro.
Entre as cláusulas do contrato para a construção
do bairro da Urca estava a que obrigava a empresa a construir uma escola
para 200 alunos, que veio a ser a Escola Minas Gerais na Avenida Pasteur.
Em 1934, foi criado o Colégio Cristo Redentor.
A Avenida Portugal foi oficialmente inaugurada pelo Presidente Epitácio
Pessoa. A denominação escolhida estava estreitamente ligada
às comemorações. Na mesma época,
a antiga praia da Saudade recebia a denominação
de Avenida Pasteur e, logo depois, a Prefeitura concedeu terrenos de aterro
para sociedades esportivas, surgindo, entre outras, o Fluminense
Yachting Club, atual Iate Clube do Brasil, na Avenida Pasteur.
Se o plano geral de arruamento e loteamento da Urca foi aprovado em
1922, somente um ano depois, e na administração de Alaor
Prata, é que foram descritos e definitivamente aceitos os Planos
de Abertura de ruas no bairro. O primeiro P. A. da Urca dá como
limites a Avenida Pasteur, Portugal e a Rua Ramon Franco, denominando essa
área de primeira seção. A segunda seção
é o trapézio limitado, no mar, pela Avenida João Luís
Alves e, no morro, pela Avenida São Sebastião, aprovada por
P.A. pouco depois do primeiro.
Portanto, no ano de 1922 foi concluído um aterro para a criação do novo
bairro. A execução do aterro e criação do novo bairro foi empreendida
pela empresa chamada Sociedade Anônima Empresa da Urca. Embora o aterro
tenha sido feito quase ao mesmo tempo do desmonte do Morro do Castelo, o
aterro onde fica o bairro da Urca foi feito praticamente com areia do
mar, da própria Baía de Guanabara. A areia era lançada e contida entre
paredões de pedras. Quando foram feitos estes aterros para criação do
bairro da Urca, a área onde ficava a Praia da Saudade e atual Av.
Pasteur já possuia grandes construções como o edifício do Instituto
Benjamin Constant cujas obras de construção foram iniciadas em 1872 e
edifício usado pela UFRJ, cuja construção foi finalizada em 1852 para
outra finalidade naquela época.
Na época, órgãos de imprensa como O Jornal criticavam
o destino da terra tirada do morro do Castelo, que era muito maior do que
a área a ser aterrada junto ao próprio morro, não
se sabendo nem mesmo como aproveitar o espaço novo. Assim, outros
aterros foram citados, como o da Lagoa, "obras provisórias ou a
título de experiência, tudo feito e desfeito por palpite".
A Urca, no entanto, não foi objeto de comentários, porque
já nasceu com suas ruas traçadas, alinhadas, e aterro feito
com areia da própria baía de Guanabara, bombeada para a área
através de uma draga.
Com a área pronta para ser habitada, e o prédio do Hotel
Balneário necessitando de maior proteção contra a
água do mar, aumentou-se a faixa de areia, com os diques de proteção,
ficando a praia com a forma que mantém até hoje. Anos depois,
em 1937, é projetada a passagem de uma rua sobre o mar, ligando
a Avenida Portugal à João Luís Alves, para evitar
a passagem sob o prédio do Cassino. Como se sabe, o projeto não
foi executado.
Mas é na virada da década de 30 para 40 que a Urca se
torna conhecida como o bairro de "risonhos bungalows à beira-mar"
através de reportagens da revista llustração Brasileira.
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